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Empresas familiares: um negócio de pai para filha

Consultores percebem aumento no número de mulheres assumindo negócios familiares, como na Fran's Café.

Autor: Vitor SoranoFonte: Brasil Econômico

Comandada por dois irmãos de sangue e um de coração, a Fran's Café prepara-se para ter uma mulher no comando: Ana Gabriela Ribeiro Dazen, filha de Henrique Ribeiro, deve ter papel relevante numa transição que será, ao menos em parte, de pai para filha - uma tendência mais comum hoje, segundo dois observadores de empresas familiares consultados pelo iG.

"Todo mundo tem seu lado feminino e isso [ter mulheres no comando] equilibra mais a estrutura. Hoje se fala tanto em mulher por causa da presidente [Dilma Rousseff]...", diz Ribeiro, que prefere não dar uma data para a saída. "A meta é [estar preparado para sair] hoje, mas o prazo é muito difícil. Pode ser amanhã, pode ser daqui a 15 anos, mas sabemos que não somos eternos."

A Fran's Café foi fundada em 1972 em Bauru, no interior paulista, por dois irmãos: José Roberto e José Francisco Conde - o Fran que dá nome à rede. Ribeiro, um amigo de longa data, aderiu à empresa em 1988, quando foi aberta a primeira loja em São Paulo, no emblemático Edifício Itália.

Como a gestão familiar em dois núcleos, os Conde e os Ribeiro, vem dando certo - em 2012, a rede de 129 lojas atingiu R$ 100 milhões em faturamento - melhor é não mexer . Francisco, filho de José Francisco, é o nome mais cotado para assumir empresa em conjunto com Gabriela, uma das duas filhas de Ribeiro.

Hoje com 34 anos, a atual responsável pelo RH da Fran's Café passou metade da vida dentro do negócio. Enquanto atuava em todas as funções - da limpeza à direção - formou-se, fez MBA, estou línguas e prestou consultoria a outras empresas.

Perguntada, Gabriela não sabe dizer ao certo se tanta dedicação à vida profissional é uma característica própria ou se reflexo de ter sentido que a linha de partida delas fica um tanto atrás da deles.

"Eu, no começo, senti a necessidade de ser um pouco mais... não que eu queria ser homem, mas no começo eu senti algum preconceito sim", diz. "Fui estudar governança corporativa focada na empresa familiar. Não sei se é um jeito meu ou pelo fato de ser mulher. As meninas que trabalham comigo tem um perfil semelhante."

'O filho espera cair no colo'

Presidente do Comitê de Sucessão Familiar da Câmara Americana de Comércio (Amcham) Brasil em Goiás, Cauê Silveira Campos se diz "impressionado" com o aumento da procura de mulheres por grupos que discutem a transição em negócios familiares.

Hoje, diz ele, as mulheres já são maioria nas reuniões promovidas pelo comitê. E, geralmente, elas são mais bem formadas do que os homens.

"O filho geralmente espera que a empresa dos pais caia no colo. A filha se prepara mais para poder dizer ‘estou aí também'", diz Campos. "E a mulher é mais ambiciosa, pois tem mais barreiras para vencer."

Consultor de empresas familiares, Domingos Ricca também diz ter recebido mais clientes em que quem assume - o vai assumir - o negócio é uma filha.

"Estou há 23 anos e não lembro de nenhum caso nos primeiros dez anos", diz ele. "Nos últimos dois ou três, foram sete."

Um traço marcante entre as sucessoras, diz o consultor, é o fato de já terem trabalhado em outras companhias.

"A maioria delas, para terem mais conhecimento e até mesmo por exigência dos pais, passa um período do lado de fora. Já os homens, não: se gostam, vão direto para a empresa familiar."

‘Autoconfiança'

Aos 29 anos, Ana Flávia Abrão lidera desde 2006 o setor de armazenagem e, desde 2008, as concessionárias do Grupo Voar. Sua irmã, Alessandra, é responsável pelo braço de aviação. Ana diz que foi um dilema para o pai de quatro filhas.

"El se viu obrigado a se amarrar a um dos pilares: ou preservava os negócios e deixava de lado um pouco o machismo ou o contrário", diz ela. "Ele optou pelos negócios. "

Antes de assumir o posto no Voar, a executiva teve dois empregos, um deles numa multinacional.

"Acho que isso contribuiu para a minha autoconfiança pois, além de ser nova, tem a questão de ser mulher", afirma. "[Trabalhar fora] contribui, sim, mas não perante a sociedade e sim perante a gente mesmo"

Mariana Rassi e as irmãs também já haviam passado por empregos fora do Grupo Ramasa quando, em 2007, assumiram os segmentos de hotelaria, construção civil e concessionárias de veículos. Para os pais, elas estavam prontas. Mesmo assim, a integração numa empresa que já conheciam desde jovens foi um tanto truncada.

"Há aquele choque natural de gerações, mas também por ser mulher. Ainda mais que são setores dominados por homens, como concessionária de veículos e construtoras", diz Mariana. "No começo a gente até fica um pouco... é diferente, depois a gente acostuma."

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